
José Saramago nos deixou às 12:30 desta sexta-feira, 18/06 (horário local, 7:30 em Brasília), aos 87 anos. Único escritor da língua portuguesa ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1998, Saramago, ateu, comunista militante, defensor ideológico de causas humanitárias – gritava contra a injustiça, globalização e pobreza - foi um homem à frente do seu tempo. Deixou uma vasta obra literária (romances, peças teatrais, contos, poemas), dos quais destaco: Memorial do Convento (1982); O Ano da morte de Ricardo Reis (1984); O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991); Ensaio sobre a Cegueira (1995) e o último, Caim (2009).
Alguns dizem que ele não gostava do Brasil e de brasileiros, porém, ao saber da sua eleição como Sócio Correspondente da ABL comentou: “Eis-me portanto acadêmico no País que mais amo depois do meu, o Brasil. É como estar em casa”.
Os trechos abaixo foram extraídos do blog “Outros cadernos de Saramago”(http://caderno.josesaramago.org)
Minutos, dias
“Todos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos a contar, o mínimo gesto, o descasque miudinho duma palavra, duma sílaba, dum som, para já não falar dos pensamentos, que é coisa de muito estofo, pensar no que se pensa, ou pensou, ou está pensando, e que pensamento é esse que pensa o outro pensamento, não acabaríamos nunca mais.”
Fonte: “Levantando do Chão” (Editora Caminho, 14ª ed., p. 59)
Catorze de Junho
“Cerremos esta porta Devagar, devagar, as roupas caiam/como de si mesmos se despiam deuses,/E nós o somos, por tão humanos sermos./ É quanto nos foi dado:nada./Não digamos palavras, suspiremos apenas/Porque o tempo nos olha./Alguém terá criado antes de ti o sol,/E a lua, e o cometa, o negro espaço,/As estrelas infinitas./Se juntos, o que faremos? O mundo seja,/como um barco no mar, ou pão na mesa/Ou rumoroso leito./Não se afastou o tempo. Assiste e quer./E já pergunta o seu olhar agudo/À primeira palavra que dizemos: /Tudo.”
Fonte: Poesia Completa (Editora Alfaguara, pags. 636/637)
“No dia seguinte ninguém morreu” (trecho de “Intermitências da morte, 2005)
Como disse Eduardo Galeano: “ele foi embora, mas ficou entre nós”.
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