Estava procurando algo para ler.
Encontrei na estante um livro com as páginas puídas e que nunca antes havia
visto entre tantos outros. Até já assisti o Coletivo Angu de Teatro encenando uma
peça inspirada nolivro Essa Febre que não Passa (2006), da pernambucana Luce
Pereira. Li, com a mesma tensão narrativada escritora e me vi meio que
espelhada no conto Vagalume, do qual
segue um pequeno trecho:
hypescience.com |
“Há dias em
que se acorda noutra pele, numa disjunção absoluta entre o ser que se é e o que
se obriga a coisas de natureza extravagante – aquelas que fingem nos pertencer
desde a primeira célula e nos repugnam a ponto de cuspir pra dentro. Amanheci
com dores de segunda-feira e até nisso havia incompatibilidade. Era um sábado
errado em mim e eu decerto não acharia graça no que normalmente me cala por
inteiro, porque o fim de semana já havia ido. Um dia não existe quando o
queremos outro.
E eu queria
continuar na cama, olhos de cortinas pretas, sem uma gota de pensamento,
esvaziada e muda. Não porque algum fato me obrigasse a certo recolhimento, mas
porque a ausência de fatos me bota numa conversa descarada com um deus que foge
de mim o tempo inteiro e me faz levar as mãos à cabeça, questionando a minha e
a seriedade dele. Não, jamais nos entendemos, e nisso está o meu desejo
desajeitado de encontrá-lo. Talvez a forma não seja boa e ele não goste que eu
me atreva a transformar sábados em segundas.”
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