Participei ontem pela manhã, do curso "Poesia e Política", por Ricardo Domeneck (SP), como parte integrante do I Festival Internacional de Poesia do Recife. Demorei a localizar o Espaço Pasárgada, atravessei a rua duas vezes. Na minha memória, ficava no primeiro lado da rua, transversal `da Conde da Boa Vista. Não era. Com essa confusão toda atrasei ainda mais.
Ele é elegante, inteligente, prepara seu próprio cigarro, fala outros idiomas, politizado. Edita a Revista Modo de Usar (revistamododeusar.blogspot.com.br). Conduziu a conversa sobre as implicações políticas do trabalho poético, a partir da proposição de Wittgenstein, de que "ética e estética são uma só". Deixou claro que o papel da arte é causar estranhamento. O papel da poesia é trazer as palavras de volta à vida, recarregar as palavras de poeticidade. A palavra é um bem comum, não pertence a você, tem consequência sobre a linguagem e sobre o mundo e precisa ser responsável pelo que escreve. Sua procura, como ele mesmo diz, é por uma poesia lírica, mas uma poesia lírica tensionada, questionadora, quase sem repouso ou espaços apaziguadores para o leitor. “ Eu tomei o partido claro do lirismo, do sujeito, quase que obsessivamente. Nos poemas que venho fazendo agora, tento, na verdade, borrar as fronteiras entre o objetivo e o subjetivo”, comenta.
Fiz um ensaio de escrita sobre o poeta Marcelo Mário de Melo, que estava à minha frente e havia levado o seu livro "Os Colares e as Contas" para divulgar:
Ele levantou um dedo e não foi ouvido
levantou dois dedos e não foi ouvido
levantou três dedos e não foi ouvido
coçou a cabeça
deitou a mão no queixo
esperou
fez movimento com a mão
disse não, não sei
folheou o livro
voltou a levantar a mão
em silêncio
calou
vozes falaram
mas a tensão falou mais alto
levantou dedo, a voz
e bradou a poesia.
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