A poetisa polaca Wislawa Szymborska, Prémio Nobel da Literatura em 1996, morreu hoje, aos 88 anos, informou o seu secretário pessoal, citado pela agência noticiosa polaca PAP.
Michal Rusinek disse que a escritora morreu "tranquilamente durante o sono", em casa, na cidade de Cracóvia. O Comité do Nobel considerou-a o "Mozart da poesia", a mulher que misturou a elegância da linguagem com "a fúria de Beethoven".
Além do Nobel da Literatura, em 1996, a poetisa foi galardoada com o Prémio Goethe, em 1991, e com o Herder, em 1995.
A poetisa Wislawa Szymborska, nascida em Kornik, oeste da Polónia, morreu ontem na Crocávia, de cancro. A autora, que se destacou por uma poesia mesclada de emoção, ironia, metafísica e quotidiano, e pela habilidade em usar trocadilhos, publicou o seu primeiro poema em 1945 num jornal local.
Considerada um mito na Polónia, só obteve reconhecimento internacional depois de receber o prémio Nobel da Literatura 1996, que lhe foi atribuído pela "irônica precisão" ao retratar a realidade humana.
Autora de uma dezena de livros de poesia, em maio de 2007 juntou-se aos intelectuais polacos que acusaram a direita conservadora dos irmãos gêmeos Lech e Jaroslaw Kaczynski (então Presidente da República e primeiro-ministro, respetivamente) de "não compreenderem" a democracia e "tentarem enfraquecer e renegar instituições de um Estado democrático como os tribunais independentes e os media livres".
Em 1975, ainda sob o regime comunista, Wislawa Szymborska juntou-se ao movimento de intelectuais que protestaram contra a decisão do Partido Comunista Polaco de inscrever na Constituição a cláusula de "aliança eterna" com a União Soviética.
A sua obra, que está traduzida em português, é considerada memorável. Wislawa Szymborska publicou o seu último livro, "Aqui", em 2009.
As três palavras mais estranhas
Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.
Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.
O TERRORISTA, ELE OBSERVA
A bomba explodirá no bar às treze e vinte.
Agora são apenas treze e dezesseis.
Alguns terão ainda tempo para entrar;
alguns, para sair.
O terrorista já está do outro lado da rua.
A distância o protege de qualquer perigo.
E, bom, é como assistir a um filme.
Uma mulher de casaco amarelo, ela entra.
Um homem de óculos escuros, ele sai.
Jovens de jeans, eles conversam
Treze e dezessete e quatro segundos.
Aquele mais baixo, ele se salvou, sai de lambreta.
E aquele mais alto, ele entra.
Treze e dezessete e quarenta segundos.
A moça ali, ela tem uma fita verde no cabelo.
Mas o ônibus a encobre de repente.
Treze e dezoito.
A moça sumiu.
Era tola o bastante para entrar, ou não?
Saberemos quando retirarem os corpos. Treze e dezenove.
Ninguém mais parece entrar.
Um careca obeso, no entanto, está saindo.
Procura algo nos bolsos e
às treze e dezenove e cinqüenta segundos
ele volta para pegar suas malditas luvas. São treze e vinte.
O tempo, como se arrasta
É agora.
Ainda não.
Sim, agora.
A bomba, ela explode.
Tradução: Nelson Ascher
(Versão realizada a partir da versão inglesa de Adam Czerniawski e da
norte-americana de Magnus J. Krynski e Robert A. Maguire)
Nenhum comentário:
Postar um comentário