domingo, 13 de novembro de 2011

Sobre o livro "Viagem à India", por Gonçalo M. Tavares – Bem, nunca fui à Índia. Este livro é uma viagem totalmente imaginária. Fica em suspenso a hipótese de não ser uma viagem real do protagonista, Bloom, mas de ser uma viagem imaginária, quase um sonho. O que me parece relevante nessa relação com o Oriente é que todos nós, ocidentais, temos quase instintivamente a ideia que o Oriente é assim uma espécie de lado metafísico e espiritual, enquanto o Ocidente será mais o lado materialista. E é um pouco esta ilusão de que no Oriente o espírito está em todo o lado que está na base da viagem do protagonista.
- Bloom, o anti-herói do livro, acaba por descobrir um mundo relativamente igual em todo o lado.
G.M.T. – Sim, vai encontrando o mesmo. E o que me parece que está a acontecer na relação entre o Ocidente e o Oriente é um pouco isso. Alguns ocidentais vão para o Oriente à espera de encontrar o espírito e, por outro lado, alguns orientais vêm para o Ocidente para encontrar a matéria. É um pouco esse conflito que está na base do livro.


 - Há aqui um certo desencanto por aquilo em que se transformou a viagem enquanto experiência, neste mundo dos aeroportos e da globalização?
G.M.T. – Sim… Nunca tinha pensado directamente sobre a questão da viagem, do aeroporto, mas há um pouco isso. Esta viagem apesar de tudo recupera a ideia da viagem enquanto percurso. Não viagem enquanto destino, porque Bloom sai de Lisboa no canto I e só chega no canto VII à Índia. Faz uma viagem estranha, por Paris, Londres… E o que é importante é mesmo o percurso. Só nesse aspecto é uma viagem antiga, porque as contemporâneas são aquelas em que se procura atingir o destino o mais rapidamente possível. Aqui Bloom atrasa-se, não vai pelo caminho mais recto. Interessa-lhe aprender – é uma viagem de aprendizagem.

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