Título original: Tetro
Duração: 127 minutos (2 horas e 7 minutos)
Gênero: Drama / Mistério
Direção: Francis Ford Coppola
Ano: 2009
País de origem:EUA / ITÁLIA / ESPANHA / ARGENTINA
LANÇAMENTO:17 de Dezembro de 2010
Sinopse do Filme Tetro:
O ingênuo Bennie, de 17 anos, chega a Buenos Aires com o objetivo de encontrar seu irmão mais velho, Tetro, que está desaparecido há mais de uma década. Sua família se mudou da Itália para a Argentina quando eles ainda eram crianças mas, graças ao sucesso do pai deles, Carlo, como maestro, logo se mudaram para Nova York. Bennie consegue encontrar o irmão, mas ele não é quem esperava. Tetro tornou-se um poeta melancólico, bem diferente da pessoa que Bennie se lembrava.
Elenco do Filme Tetro:
Carmen Maura,
Maribel Verdú,
Vincent Gallo,
Alden Ehrenreich.
Reviews // CinemaCinema \ por Priscila Armani \ 20.12.2010
Tetro, o filme mais pessoal de Coppola
Vincent Gallo dá vida a um personagem que rejeita a família e possui muitas semelhanças com a trajetória pessoal de Coppola.
Durante sua visita ao Brasil no início de dezembro para promover seu novo filme, Tetro, Francis Ford Coppola declarou aos jornalistas que sua carreira havia sido "ao contrário" do que normalmente acontece com os realizadores no Cinema. Segundo ele, um jovem diretor começa por curtas e longas "pequenos", filmes modestos, de menor orçamento. Ele iniciou sua carreira com O Poderoso Chefão e Apocalipse Now, duas produções enormes, de milhões de dólares, blockbusters de grande alcance, mas cujas histórias não eram pessoais. Agora, na maturidade, dirige um filme bastante simples, de roteiro extremamente pessoal, talvez a produção mais íntima que jamais tenha feito em toda a sua carreira. De acordo com o próprio diretor, "eu estava me preparando a vida toda para fazer Tetro". E quando você assiste ao filme, percebe que é exatamente isso. A obra de uma vida.
A história do protagonista, interpretada por Vincent Gallo, tem incontáveis semelhanças com a infância e adolescência do realizador. Para aqueles mais afoitos, não se precipitem: é uma ficção. Não é a história da vida do diretor. Mas no roteiro, escrito pelo próprio Coppola em parceria com Mauricio Kartun, há pinceladas auto-biográficas aqui e ali (inclusive o próprio título), que tornam tudo muito profundo e sincero. Interessante depois de assistir a obra é pegar os dados biográficos da história da vida dele e ir comparando com o que acontece aos personagens do filme. Inevitável não se admirar e descobrir muitas coisas.
Mas vamos ao enredo: Tetro (Vincent Gallo) abandona a família e se isola em Buenos Aires. Seu irmão Bennie (Alden Ehrenreich) não se conforma com sua partida e aproveita uma oportunidade para ir atrás dele. Quando chega à cidade, se encontra com Miranda (Maribel Verdú), a despachada e carinhosa esposa do irmão. Ao contrário do que imagina, não será nada fácil para Bennie resgatar as lembranças da infância e montar o quebra-cabeças deixado por Tetro em sua vida.
Filmado em Buenos Aires e em preto e branco, o filme já começa nos dando uma perspectiva fantasmagórica e assustadora da cidade. A iluminação noturna dá um ar misterioso, que é reflexo do que Bennie sente, na expectativa de reencontrar o irmão que não vê há tanto tempo. Registrando tudo sem cores, a intenção de Coppola é brincar com a nossa percepção das cores: normalmente o p& b remete a lembranças, dá a sensação de que são acontecimentos do passado aquilo que vemos. Mas logo percebemos que no universo do filme isso não se confirma e o tempo atual dos personagens não tem cores enquanto a memória e aquilo que os personagens sonham ou imaginam é que é colorido. Um recurso extremamente interessante. E que mostra a inventividade do cineasta.
Esta continua na forma como ele opta por registrar as cenas, usando a luz e a sombra como suas aliadas, numa fotografia lindíssima de Mihai Malaimare Jr., que valoriza demais o filme. A única cena com certa sensualidade do filme ganha uma tonalidade poética e quase melancólica, graças ao jogo de luz. Merecem destaque também outras duas sequências: na primeira, uma dança magnífica da câmera. Ainda antes de ver o irmão, ela começa focalizando Bennie de forma bastante impessoal e vai fechando em close até flagrá-lo chorando durante a leitura de uma carta muito marcante. Já na segunda, uma discussão intensa entre os irmãos é registrada de forma muito peculiar, com primeiramente a sombra de Tetro na parede quando fala com Bennie e depois o reflexo deste no espelho enquanto a câmera mostra diretamente apenas Tetro, num jogo de cena no qual nunca percebemos ambos num mesmo contexto ao mesmo tempo, apesar de dividirem o espaço e falarem um com o outro. Fascinante, para dizer o mínimo.
O recurso de fechar um pouco a moldura da imagem para indicar que o que estamos vendo é uma lembrança ou um sonho também é muito inteligente. É quase como se Coppola dissesse: "quando lembramos, vemos tudo através de molduras". Isso, aliado às cores, tornam as sequências de inevitável melancolia e são essenciais para entendermos como é o mundo imaginário de Tetro, no qual ele muitas vezes se isola. O olhar e a expressão de Gallo também são reveladores e indispensáveis na caracterização do personagem, que jamais teria a mesma força se fosse feito por outro ator, uma escolha de casting sensacional. O ator norte-americano tem vasto currículo em produções independentes e cults, sendo pouco conhecido e até subutilizado, podemos perceber nesse filme. Já Ehrenreich lembra um Leonardo Di Caprio jovem, que começa a deixar Titanic pra trás em Gangues de Nova York. Descoberto por Spilberg durante o bat mitzvah de uma amiga de sua filha, o rapaz fez pouca coisa até então e, levando-se em conta a inexperiência, se sai muito bem, dando sutileza e sensibilidade à história. A espanhola Maribel Verdú também está excelente e, apesar de ter feito muita coisa já, inclusive O Labirinto do Fauno em 2006, ainda não foi descoberta por Hollywood, o que é uma pena.
Não pode deixar de ser mencionada a montagem realizada pelo vencedor do Oscar Walter Munch, em parceria com Coppola mais uma vez, um verdadeiro artista e gênio, cuja experiência só engrandeceu a obra e sem a qual o filme jamais funcionaria como funciona. Outro ponto alto da parte técnica da produção é a trilha sonora do argentino Osvaldo Golijov, que remete à melancolia do protagonista quando mescla jazz, tango e violão, ao mesmo tempo que mistura música clássica e instrumental, num contexto que se encaixa maravilhosamente na história do personagem-título.
Tetro é uma obra bem forte, que mostra a influência determinante que as raízes italianas exerceram sobre Coppola. É um filme que trata, acima de tudo, sobre a importância da família na vida dele e um exorcismo dos esqueletos que estavam em seu armário até então. Passando suas memórias a limpo, o mestre ainda consegue nos entreter, criando uma trama pessoal e, ao mesmo tempo, ficcional e surpreendente. Se ele passou a vida toda se preparando para realizá-lo, talvez muitas pessoas ainda não tenham vivido o suficiente para estarem preparadas para assistí-lo e compreendê-lo. Tem que ter estômago. Mas é uma saga gratificante de acompanhar, sendo muito edificante quando chegamos ao seu final.
www.opperaa.com/814-tetro-o-filme-mais-pessoal-de-coppola-.html
Curiosidades do Filme Tetro:
- Francis Ford Coppola decidiu rodar Tetro da mesma forma que O Selvagem da Motocicleta (1983), em preto e branco, por acreditar que os filmes possuem uma “conexão espiritual”;
- Francis Ford Coppola resolveu rodar Tetro em widescreen como forma de evocar os filmes dirigidos por Akira Kurosawa;
- Francis Ford Coppola queria que Matt Dillon fosse o intérprete de Tetro, mas o ator não pôde aceitar o papel devido a compromissos já firmados com outras filmagens;
- Inicialmente seria Javier Bardem o intérprete de Alone, tutor de Tetro. Entretanto, ao revisar o roteiro Francis Ford Coppola chegou a conclusão de que o relacionamento entre os personagens teria maior apelo caso fosse entre um homem e uma mulher, ao invés de dois homens. Desta forma, Bardem deixou o elenco e em seu lugar foi contratada Carmen Maura.
(www.baixaroucomprar.com/dvd-filme-tetro.html)
O filme segue em cartaz no Cinema da Fundação, Recife.
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